Antes de mais nada, por que raios "Apple Watch" e não adotar a já consagrada fórmula de batizar a marca com nome da categoria na sequência da vogal "i"? Assim como foi com o iPad, o iPod, o iPhone e o iTunes, teríamos o iWatch. De tão previsível, resolveram contrariar. Mas, principalmente, no caso da Apple, quem manda são os clientes, ou melhor, os fãs. Tim Cook que se cuide! É bem provável que o nome paralelo vingue mais do que o oficial. Veremos.
Não se discute, à princípio, a elegância e a tecnologia do relógio da Apple. Pelo que se viu na apresentação do produto, estes atributos foram bem preservados. O ponto de reflexão, porém, reside na categoria em si. Relógio? Não estamos, com o domínio dos smartphones - em especial - vivendo uma era de declínio dos relógios? Assim como foi com os "rádios-relógios-despertadores" (urgh!!!)?
Alguns podem argumentar que precisamos de relógios mais técnicos para correr ou mergulhar. E que ainda é complicado para os smartphones substituí-los. De acordo, mas o grosso da sua utilização é no dia-a-dia mesmo, no escritório, na sala de aula ou, simplesmente, em casa. Será que os smartphones, com os seus relógios embutidos, não estão engolindo este antigo gadget?
Por enquanto, sem um estudo científico na manga, é só impressão mesmo. De qualquer forma, de cara, percebe-se que não é uma ruptura dos tempos de Steve Jobs. Ele, no comando, criou novas categorias ou revolucionou radicalmente categorias previamente existentes. E foi pioneiro em muitas delas. Não parece ser este o caso. Será que ele aprovaria tal estratégia? Não sem antes colocar um bom tempero a mais neste caldo.
Mas ampliando um pouco a análise, é interessante notar a concretização crescente da chamada onda das "tecnologias vestíveis". Certamente, aquelas marcas mais atentas em comportamentos, necessidades e desejos dos consumidores (latentes ou não) previram-nas em algum ponto um tanto distante, e foram corajosas o suficiente para desbravar esse mercado e encarar o desafio.
Para lembrar algumas apostas que vem dando bons frutos neste campo, fiquemos com o "tênis-meia" FlyKnit da Nike, a camiseta de compressão para running da Under Armour, o Google Glass (dispensa apresentações) e o já consagrado sucesso de vendas Beats, um super-fone de ouvido e alvo de cobiça antiga da própria Apple.
Sem dúvida, as tecnologias vestíveis vieram para ficar porque atuam em uma ou mais combinações das ditas "tendências irreversíveis": mobilidade, conforto, design, conexão em rede, status e associações (vínculos) emocionais. Muitas apostas, claro, podem ficar no meio do caminho, por um motivo ou por outro. É o risco do jogo. Mas, desde que com a carta certa na mão, é sempre melhor tentar dominar o território antes do que ter que combater o prefeito depois.