O texto de hoje no site de "O Globo" de autoria do autêntico Paulo Cezar Caju, lendário craque brasileiro nos anos 1970 e 1980, fala basicamente sobre a essência de uma escola. Neste caso, como ele mesmo afirma, uma escola de futebol. A brasileira. Sobre o desalento do "ganhar a qualquer custo", sem respeitar a sua tradição e missão originais. Em suma, a sua essência. Um estratégia de vida curta e destinada a nivelar a equipe por baixo, portanto, impossibilitando-a de diferenciar-se perante a concorrência. Sorte, fortuitamente, acontece, mas não podemos contar com ela indefinidamente. Muito pelo contrário. Não confundir, obviamente, a manutenção da essência com o desprezo pela evolução das coisas. A última não anula a primeira. São compatíveis e complementares, mas devem ser misturadas na dose certa.
Sem (provavelmente), ter ciência, Caju mirou em um alvo e acertou em outro. Senão, como aceitaríamos de bom grado, por exemplo, um produto com design feio da Apple, um sabonete da Granado com a mesma qualidade (ou a falta de) que a do Lux, uma Ferrari 1.6 marrom ou um ato de corrupção vindo do ministro Joaquim Barbosa, ou do Greenpeace? Simplesmente não esperamos essas atitudes dessas marcas. Futebol brasileiro tem que ser bem jogado e ponto. Aliás, a partir de um determinado ponto, as marcas - do ponto-de-vista moral - não pertencem mais a si mesmas ou às suas empresas, mas à comunidade. Não deveriam agir a partir de decisões tresloucadas, imediatistas ou gananciosas de alguns de seus dirigentes (eles vão, as marcas ficam), sem a análise do impacto que gerariam na imagem e na reputação de suas marcas na sociedade. Mas chega de conversa. Fala aí Caju:
"Vamos direto ao ponto. Será que algum torcedor, de verdade, ficou empolgado após o empate com o México? Por que o Galvão Bueno fez tanta questão de exaltar nossa liderança no grupo, como se tivéssemos apresentado um futebol de primeira? Por que o Felipão perdeu a paciência com os jornalistas e praticamente abandonou a coletiva de forma patética deixando uma pergunta no ar: “ninguém vai falar do pênalti no Marcelo?”. Não foi pênalti nem no Marcelo, nem no Fred. E ponto. Não seria mais fácil ele debater com os jornalistas, explicar porque manteve o Paulinho não jogando nada, porque colocou o William faltando poucos minutos e porque não manda o Neymar soltar a bola. Pelo menos ele assumiu que manda os jogadores chutarem de fora da área, mas ninguém obedece. Olha só, não discuto títulos, discuto qualidade de futebol. O Brasil pode ser campeão e meu ponto de vista não mudará. Não quero ser campeão de eficiência, que ser campeão de verdade, quero um time empolgante, quero uma escola de futebol, quero inovações táticas, quero novos talentos, quero molecagem. Chega de mesmice, de futebol medroso, retranqueiro.
Com as inovações tecnológicas, a chegada dos chips, o próximo passo será a criação de jogadores robôs, super atletas, gladiadores, chuteiras de aço. Está chato demais. O Fred paradão dentro da área e ninguém jogando pelas pontas. Sai o Fred, entra o Jô. É duro. E vamos parar de nos enganar. O Neymar não é Romário, nem Ronaldo Fenômeno. É maldade depositarem no garoto tanta responsabilidade. É craque mas precisa de alguma mente pensante para tabelar. Oscar virou roubador de bolas. E o suspense sobre a escalação de Hulk? Que diferença faz se jogar ou não???
Ser campeão assim é dureza. Cansei. Sou brasileiro, mas sempre torcerei pela vitória do futebol de excelência. E excelência vem passando longe dessa seleção."
Sem mais...