terça-feira, 26 de novembro de 2013

Padrão FIFA

Quando criança e adolescente (e já faz tempo), eu tinha a FIFA em alta conta. Para mim, era uma espécie de oásis de seriedade e competência. Tinha ainda o charme da discrição e da polidez. E a nítida impressão de possuir uma habilidade quase divina de parar todo um mundo caótico e violento por meio de um esporte. Mesmo que por um breve período de tempo. A FIFA, sinceramente, dava até um certo medo. Como aquele pai muito sábio e amoroso que, quando confrontado e/ou decepcionado, era duro e implacável. Sei lá, uma coisa meio européia clássica do século XIX. Uma Viena fria, nublada e chuvosa no meio da tarde de uma segunda-feira. Não era pouca coisa para a cabeça de um jovem. Qualquer discussão, portanto, terminava abruptamente quando alguém da turma dizia: "é...mas é reconhecido pela FIFA!" Pronto! Era o que bastava.

Mais aí o tempo passou, amadureci, e aprendi a ampliar e a calibrar melhor o que chegava aos meus olhos e ouvidos. E o resultado? A princesa virou rã. Vários casos de corrupção desvendados, interesses políticos e financeiros da entidade sobrepondo-se ao bom andamento do esporte, tentativas ditatoriais e egoístas de impor-se à soberania e à cultura de países e ao bem-estar dos seus povos, calendários irracionais, relações suspeitas com confederações, patrocinadores e mídias, rankings mal elaborados, desorganização na venda de ingressos, tentativa de elitização do futebol, resultados de jogos manipulados, eleições fraudulentas, arbitragens suspeitas e/ou de má qualidade, e por aí vai. Enfim, nesses anos todos, a marca perdeu muito da sua credibilidade para mim. Não faz diferença, claro. Mas faz muita diferença quando uma parcela cada vez maior da humanidade tem essa mesma percepção. A ficha caiu: A FIFA é como um governo mexicano ou russo. Nem melhor, nem pior, nem diferente.

A última trapalhada da FIFA foi a escolha do casal de apresentadores para o sorteio dos grupos da Copa do Mundo no Brasil em 2014, a ser realizado em Salvador, no próximo dia 6 de dezembro. Os atores Lázaro Ramos e Camila Pitanga, ambos negros, foram rejeitados pela entidade. Claro que a indignação geral é pelo racismo. E acho que a FIFA foi racista sim.


Os escolhidos pela instituição foram Rodrigo Hilbert e Fernanda Lima, também atores da Rede Globo. Nada contra ou a favor desses casais. Só acho que, se a Copa fosse na Suécia ou na Noruega, a escolha faria mais sentido. Mas a Copa é no Brasil, e Hilbert e Lima estão longe de representar a essência do povo brasileiro. Fazem, sim, parte dele. Mais razoável seria um negro e uma branca (ou vice-versa). Mas a FIFA desdenhou essa conhecida característica da formação do povo brasileiro, a mistura de raças. Aliás, desdenhou e se portou de forma arrogante em todo o processo de organização do evento. Que, depois da Copa, vá incomodar em outra freguesia.


Não compactuo com ditaduras de qualquer espécie, incluindo raça negra e branca. O que fica é que a FIFA perdeu a oportunidade de conduzir melhor o assunto, ouvindo as bases e entendendo melhor a cultura do país aonde vai sediar um evento sob a sua chancela. Preferiu atropelar tudo isso e agir de forma prepotente e racista. O que ela conseguiu ? Gerar mais uma percepção negativa de sua marca e jogar na lata do lixo um dos seus princípios declarados abertamente: SAY NO TO RACISM. Exemplo de má execução de Branding. A mídia não tem que ter dó mesmo !