terça-feira, 29 de julho de 2014

Intel

Dúvida cruel: melhor investir em uma "publicidade-tradicional-enlatada-fria-e-chata-de-30-segundos-na-TV-ou-no-rádio-ou-em-qualquer-outra-mídia-falando-dos-atributos-técnicos-da-última-geração-de-chips-da-Intel" ou em uma boa história (estão chamando por aí de storytelling ...) contada no tempo suficiente para dar sentido à significados e propósitos da marca, emergir opiniões, marcar posições, expor crenças, engajar e fazer as pessoas sentirem algo e refletirem sobre? A resposta já está na formulação da dúvida, claro. Sem contar que aqueles bravos heroicos que, eventualmente, sobreviverem a mais de 15 segundos de um massacre "a-lá-bula-de remédio", provavelmente não lembrariam nem dos atributos técnicos nem da marca. Cruel mesmo.

Este vídeo (de tempo suficiente) da Intel - e batizado de "Future Vision" - especula sobre como seria em um futuro próximo (bem próximo, aliás) a nossa interação com a evolução, cada vez mais rápida e disruptiva, da computação móvel. Mas o ponto aqui não é discutir estas tecnologias em si. A questão é o banho estratégico do dito storytelling sobre a combalida publicidade tradicional, no que se refere à capacidade de gerar atenção e sensibilidade nas pessoas. A publicidade tradicional definha a passos largos por diversas razões, dentre elas a sua chatice inerente (salvo raríssimas exceções), mais informações e opções de mídia disponíveis (facilitando a fuga), e ao fato de que o mundo (e nós) estamos mais complexos e exigentes. Hoje em dia é difícil nos pegar.

Por outro lado, o storytelling bem-feito costuma ser menos custoso, mais intimista e emotivo. Também gera mais "buzz" e, portanto, mais mídia espontânea. Transita bem nas redes sociais e marca referências. Tende a provocar grandes discussões e interações entre as pessoas. E o melhor: a marca "patrocinadora" não é a estrela, é a coadjuvante. Vem só de carona, mas é muito mais bem-vinda e reverenciada do que as marcas dos comerciais chatos lá de cima. E por quê? Porque não nos tratam como uns completos idiotas. Simplesmente, está cada vez menos tolerante digerirmos adaptações toscas e piegas de musiquinhas de axé ou de pagode (fosse qualquer o gênero) para vender remédios para dor de cabeça (fosse qualquer a categoria).

E a Intel, com os seus chips sem-graça, no meio de um emaranhado de engrenagens sem-graça, mas dentro de gadgets normalmente atraentes, mais uma vez dá uma aula para aqueles que acham que boa comunicação só é possível mesmo para margarinas (urgh!?!), cervejas ou carros. A sacada é que ela não ataca os chips (nem os seus sonolentos aspectos técnicos), mas o universo de benefícios, facilidades, prazeres e conforto que os seus produtos (sem-graça) contribuem no dia-a-dia de pessoas normais, com histórias normais e antenadas com o seu tempo. Intel Inside!!! Anyway, um programa de marketing que se preze não pode prescindir de uma ferramenta como o storytelling em seu arsenal. O branding da marca agradece.

domingo, 27 de julho de 2014

FutureBrand


Saiu recentemente no Blue Bus pesquisa realizada pela consultoria britânica FutureBrand com as marcas de melhor e pior reputação, dentre as mais valiosas do mundo (100 no total).

Abaixo link com o conteúdo completo do estudo:
http://www.bluebus.com.br/pesquisa-marcas

De fato, nenhuma grande novidade na parte de cima da tabela (as "Top 20"). Google liderando, e presenças mais do que esperadas de Apple e Nestlé. Apenas algumas curiosidades dentre as vencedoras:  A Sabic (décima terceira colocada) é um conglomerado saudita, fabricante de fertilizantes e plásticos. A Gilead (décima nona colocada) é uma empresa norte-americana relativamente nova - fundada em 1987 - e atuante no segmento biofarmacêutico. E a Abbvie é uma empresa ainda mais nova (de 2003), pertencente ao gigante farmacêutico Abbott (a tipografia do seu logotipo, alias, é bem elegante, todo minúsculo). Prova de que não é preciso ser centenária nem celebridade para obter reputação deste porte. Um Branding bem feito, com clareza de posicionamento e propósito, lealdade à essência da marca e um programa de marketing poderoso costumam abreviar bem esse período...

Por outro lado, na parte de baixo do ranking, nenhuma grande surpresa do ponto-de-vista de segmentos de mercado: em geral, todos bancos de investimento (considerados atores de destaque na crise de 2008 e visceralmente expostos em vários documentários de sucesso, dentre eles o polêmico "We're Not Broke"), empresas de "oil & gas" - alvos constantes de ambientalistas e diversos outros extratos - além dos recorrentes e inúteis tabagistas de sempre (afinal, para que serve a Philip Morris neste mundo?). Surpresas negativas ficam mesmo para as péssimas posições da BASF e da Qualcomm, a única de tecnologia. 

sábado, 19 de julho de 2014

Innocentive

Já virou quase um "chavão": "No mundo cada vez mais globalizado e conectado em que vivemos, a adaptabilidade e a inovação - aliadas ao respeito à essência da marca - podem fazer diferenças positivas marcantes e duradouras, blá, blá, blá...". Mas, apesar de um "quê" de clichê, é a mais pura verdade. Caso contrário, cairíamos facilmente no tédio, na desesperança (para os temas mais delicados...), na comoditização e na guerra de preços. Assim caminha a humanidade...em busca da eterna evolução. 


A proposta da Innocentive é contemplar uma rede gigantesca de potenciais solucionadores de problemas e necessidades (latentes ou não) de pessoas e instituições. Mundo afora, para os mais diversos segmentos. Em linhas gerais, o desafiante coloca o desafio e os desafiados competem entre si por recompensas que variam de acordo com a importância, a complexidade e os recursos do proponente.

Baseada nos Estados Unidos, os números são impressionantes (dados no link abaixo para acesso ao site) e, muito bacana também, é o acervo - na seção Resources - de vários projetos que passaram pela Innocentive e que, agora, servem de referência para os interessados. São todos apresentados por meio do tripé "Desafio - Solução - Resultados". 

Claramente, a filosofia por trás da Innocentive é a Inovação Aberta. Não que seja a verdade absoluta e definitiva, mas é inegável que vem colhendo bons frutos com milhares de pequenas redes com membros das mais diversas áreas do conhecimento (antropólogos, etnógrafos, especialistas em marketing, psicólogos, economistas, etc.), ávidos por contribuir, deixar suas marcas e, claro, faturar com isso. Um efeito dominó que mal conseguimos mensurar. Com os devidos cuidados, é uma forte aliada para resultados consistentes.  

É curioso notar como utilizam notavelmente os três pilares para uma boa campanha promocional/incentivo, como em qualquer departamento tradicional de marketing minimamente eficiente: regras claras, boa comunicação e prêmios atraentes. Afinal, não deixa de ser uma campanha também, só que esta por inovação. Nada como um modelo de negócio simples.

De qualquer forma, o mais importante é que, com a revolução tecnológica em constante mutação, as empresas e a comunidade em geral já tem à disposição portais como a Innocentive, como mais uma alternativa para fazer a roda girar. Cabe aos mais antenados de cada lado surfar nessa onda - da forma mais segura e conveniente possível, antes dos concorrentes. Todos ganham!

No Brasil, possuem uma parceria com o Instituto Inovação.

Site da Innocentive (USA): https://www.innocentive.com/

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Lady Foot Locker

Voltando ao assunto de posicionamento de marcas, um bom exemplo de uma marca que aproveitou muito bem um nicho até então "meio-que-escondido" (ou para ser descoberto) no mercado norte-americano: trata-se da Lady Foot Locker, um varejista especializado em produtos esportivos só para mulheres. Já são mais de 400 lojas nos Estados Unidos e em Porto Rico, fora o e-commerce. Não adianta, já está na mente das norte-americanas: artigos esportivos para mulheres? Lady Foot Locker. Obviamente, eles (ou elas) são muitos bons em programas de marketing também, o que ajuda a reforçar o posicionamento. Detalhe: inexplicavelmente, ninguém ainda no Brasil empreendeu este modelo de negócio. Até quando?


Abaixo o site do varejista e um comercial bem curtinho:
http://www.ladyfootlocker.com/

Nicholas Christakis

Deu hoje na Folha de SP de hoje: 
Do renomado sociólogo, Ph.D em medicina por Harvard e diretor do laboratório de ciências humanas de Yale:

"...A conexão profunda é com outra pessoa. As redes online são boas para disseminar informação, mas se um amigo seu decide ir para a rua, é mais possível você querer segui-lo. A mídia online não é tão eficiente em mudar comportamentos".

Um grande amigo tem mais peso em influenciar você para ver um filme, mais do que qualquer propaganda. Interações sociais são bem mais importantes, tem mais peso do que aquilo que você vê na internet. Quando temos liberdade para fazermos o que quisermos, copiamos outros..."

Serve apenas para relativizar a importância da publicidade e da internet, refletindo sobre os perigos dos modismos e das novas verdades de plantão. O bom-senso é sempre o melhor caminho...


terça-feira, 15 de julho de 2014

Men's Market


Hoje é o dia do homem. Pelo menos no Brasil. Parece que fora é 19 de novembro. Não importa! Importa mesmo é que, além de pouco conhecido e trabalhado por aqui, este dia nos faz refletir novamente sobre o conceito de posicionamento e extensão de marcas. Já chego lá...

Segundo Al Ries, o "pai da matéria", o menos é mais. À grosso modo, escolhe-se o segmento de atuação - normalmente já ocupado - e vai-se ramificando até encontrar uma brecha não ocupada (ou mal ocupada), coloca-se uma bandeira (nome, slogan, símbolo e logotipo) e executa-se um programa de marketing com muita coragem e disposição.

A ideia é dominar ferozmente um território antes "meio-que-terra-de-ninguém". Curves (academia-mulheres), Papel Craft (papelaria-boutique) e Forma (eventos-adolescentes) são alguns exemplos de aplicação prática - mesmo que, muitas vezes, inconscientemente por parte dos empreendedores/executivos - desta teoria. 

Outra alternativa seria se manter no mesmo terreno, porém, sendo o oposto do líder. Principalmente no que tange ao atributos mais emocionais. É o caso clássico da Coca-Cola versus Pepsi: maduro x jovem, tradicional x novo, sério x despojado, e por aí vai. E a extensão de marca, então, é um perigo, pois pode enfraquecer a posição original. Tem cabimento uma pilha Bic?

Não que não venda mais Bic com a ajuda das pilhas. Vendeu, vende e venderá. A questão é a visão míope que esconde a ameaça, no longo prazo, de confundir a cabeça das pessoas sobre uma marca-referência em canetas (e não em pilhas). Pode-se perder muito do que tinha antes em nome de uma ambição desmedida. Pode ser bom para vendas, para o gerente de produto de ocasião ou para os acionistas desavisados. Mas para a marca, é uma tragédia...

E na nova categoria, é muito improvável que desbancará um dia pesos-pesados como Duracell ou Rayovac. A não ser que venha com investimentos astronômicos e, ao mesmo tempo, contar com caprichadas barbeiragens das líderes. Do contrário, servirá apenas para dividir preciosos recursos com as pobres canetas. É muito difícil, uma vez lá e bem consolidada, tirar uma marca da mente das pessoas.  

Não que a extensão seja totalmente descartada. Apesar da tacada fora das Havaianas no investimento em bolsas alguns anos atrás, a aposta agora parece mais sensata. Levar a tradicional marca para produtos como sandálias e bermudas - desde que na proposta casual /descolada e com um "quê" de brasilidade - pode, ao mesmo tempo, agregar e não ferir a essência da marca. Em extensão de marcas, a linha entre o verde e o vermelho é muito tênue... 

Mas aqui foi só uma pitadinha. O assunto é muito mais complexo e com dezenas de outras variáveis a ser consideradas. O resgate do velho Ries foi, por ora, somente para fundamentar - e aí voltando para o dia dos homens - o acerto estratégico de uma nova marca no mercado brasileiro.


Trata-se do "Men's Market", um e-commerce com menos de 2 anos de vida (portanto, ainda de fraldas), voltado exclusivamente para o universo masculino. Seus fundadores encontraram uma brecha/oportunidade para vender produtos de higiene, moda e cuidados pessoais só para homens. O foco aqui é, portanto, o gênero. O gênero masculino! O menos é mais...

São diversos tipos de shampoos e aplicações, cremes, pomadas, acessórios, etc., para atender a um nicho ainda muito dependente dos estímulos femininos e/ou da carência de informações. Bingo! O único "senão", nesta história, é que não há, pelo menos neste ano, uma ação promocional centrada no dia de hoje. Ponto positivo para o posicionamento da marca e negativo para o marketing do Men's Market.

No ranking de construção de marcas, o posicionamento vem em primeiro lugar. Numa roda imaginária, cercada de vários atributos como estilo de vida, gênero, aparência, natureza (produtos e/ou serviços), porte, características técnicas, faixa de preço, classe social, formas de distribuição, aspectos intangíveis, região, faixa etária, dentre outros... - e as suas múltiplas possibilidades de cruzamentos - certamente terá lugar para algo ainda inexplorado. Como no xadrez, o lema é refletir antes para explorar as potencialidades depois.   

Abaixo o link para o site do Men's Market:

sexta-feira, 11 de julho de 2014

m&m's

E da série "os melhores slogans de todos os tempos", este remete aos anos 1950...



Baxter

Aparentemente o assunto não tem nada a ver com o universo das marcas, porém, um olhar mais atento na matéria de capa da revista Exame de 9/julho nos faz refletir sobre a importância da evolução do conceito e das ferramentas de produção para o ambiente competitivo.

Para apoiar este raciocínio, o ponto-de-partida poderia ser a lembrança dos grandes desafios de uma marca no mundo contemporâneo: produtos cada vez melhores, mais confiáveis e inovadores, preços competitivos e margens saudáveis. E tudo "em linha" com a essência da marca (missão, visão e princípios). Sem apelar! Não é fácil!

Para tanto, dentre as diversas variáveis da equação de marcas estão, no ambiente fabril, a necessidade de tecnologia de ponta e de custos menores de produção. A boa notícia é que, especialmente nos países mais desenvolvidos, uma espécie de nova revolução industrial digital - ainda incipiente e quase silenciosa - está tomando forma. E os efeitos serão, certamente, mais rápidos do que a sua antecessora.

Baseada no tripé "digitalização, robotização e inovação", as vantagens da sua adoção podem ser muitas: maior facilidade no acesso e na troca de dados históricos, testes virtuais, planejamento mais apurado, ganhos de flexibilidade e produtividade, incremento da qualidade, otimização dos recursos, redução dos custos de produção, maior eficiência na logística e na gestão dos estoques, dentre outras.

Por sua vez, as marcas podem beber desta fonte ao testar mais rapidamente novos protótipos de design, avaliar novas combinações de componentes e funcionalidades, oferecer produtos mais confiáveis, atender melhor a demanda dos clientes, ofertar preços mais acessíveis, acelerar o processo de lançamento de produtos, etc. Portanto, a correlação entre fábricas de última geração e marcas mais ágeis e inovadoras é alta.
  
A aderência à esta filosofia tem ficado cada vez menos onerosa em função da concorrência e dos ganhos de escala dos patrocinadores desta revolução. Também contribuem para este movimento os crescentes custos de produção na China (sim, ela já não é mais o "eldorado" de antes) e a visão estratégica dos países mais antenados no que diz respeito às vantagens de manter as suas economias crescentemente vinculadas à produtos de maior valor agregado, em nível global. 

Algumas plantas industriais, inclusive, antes alocadas na China, já voltaram para casa, ancoradas pelas vantagens da revolução computacional e robótica das fábricas e, claro, também por pressões políticas e econômicas de seus países de origem. Em alguns casos, houve incentivos para investimentos e barateamento dos custos de energia. Só precisavam de garantias para se manterem competitivas. Agora tem! 

O Brasil, infelizmente, parece estar na contramão deste movimento. Questões político-ideológicas e equívocos na área econômica estão deixando o país para trás na arena competitiva mundial, evidenciadas pelo atual e inegável - mesmo que lento - processo de desindustrialização, estagnação dos empregos e perda relativa da indústria em relação ao PIB. O horizonte é preocupante.

Muitos podem argumentar que esta tendência de digitalização e robotização das fábricas irá ceifar milhares de empregos. É verdade! Um efeito colateral mais do que indesejado. Mas a reflexão aqui é inerente ao sistema capitalista: a busca constante pela inovação como meio para obter vantagens competitivas e gerar riquezas para os stakeholders. É regra do jogo! 

Cabe, no entanto, ao poder público, garantir políticas no sentido de proporcionar a população mais incentivos à educação e ao empreendedorismo. E, ao mesmo tempo, assegurar um ambiente de negócios mais favorável e uma rede de proteção social - provisória - até que o cidadão tenha condições de inserção na nova dinâmica econômica mundial. O contraponto à tendência de queda das funções mais repetitivas nas fábricas é o crescimento vigoroso do segmento de serviços. Aí está o caminho!

Na verdade, o que temos presenciado ao longo das últimas décadas é uma movimentação gradual para as atribuições mais "pensantes". Ainda temos um longo caminho pela frente, mas a perspectiva é que este processo acelere na medida em que os avanços tecnológicos sejam conquistados. É preciso adaptar-se a esta nova realidade.

Talvez o elemento-símbolo desta revolução é o "nem-tão" simpático Robô Baxter.

No vídeo abaixo, uma breve explicação sobre este mais novo candidato à operário, mundo afora.
  

E ilustrando um pouco esta tendência de fábricas apoiando os objetivos/necessidades das marcas, um pequeno vídeo institucional da planta da BMW em Leipzig - Alemanha, uma das mais modernas do mundo:

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Saraiva

Do ponto-de-vista da atmosfera de loja, da variedade de títulos (especialmente os mais antigos ou os de segmentos mais alternativos) ou do atendimento ao cliente, a Saraiva ainda está relativamente longe da sua maior concorrente, a livraria Cultura. Mas, ao analisar as suas estratégias de marketing sob o prisma da sua essência de marca (branding), aí a Saraiva está à frente.

Esta iniciativa de co-branding com a Easy Taxi (um aplicativo de conecta o passageiro ao taxista) é mais uma prova disso. Numa sacada mais do que pertinente, ela percebeu uma necessidade implícita - especialmente em grandes centros urbanos - de apagar o tédio dos passageiros em longos trajetos e congestionamentos, proporcionando acesso à cultura por meio do seu principal business, os livros.


E vai mais longe: mostra o seu total desprendimento e a sua plena confiança ao permitir que retirem os títulos dos veículos ao mesmo tempo em que incentiva novas doações dos clientes ao sistema. E não é pouca coisa: são mais de 80 mil títulos doados, dos mais variados gêneros. A ação, batizada de Bibliotaxi, é parte integrante da campanha de 100 anos da marca.

Para a Easy Taxi também é mais uma maneira de se diferenciar da concorrência. Ambas não faturam 1 centavo sequer com a ação, mas certamente obtém bom retorno sobre o investimento com ativos menos visíveis - porém não menos importantes - como imagem, lembrança, fidelidade e, o mais valioso, lealdade às marcas. O que, afinal, poderíamos querer mais?


O lado misterioso desta ação, todavia, é se há algum tipo de compartilhamento de dados dos clientes da Easy Taxi com a Saraiva. É provável que haja. Mas o uso ético dessas informações não invalida a boa iniciativa das empresas envolvidas. Voltando ao primeiro parágrafo, demonstraríamos facilmente o alinhamento desta ação ao branding ao lembrar o lema público da Saraiva, pegando carona em Miguel Reale: 

"No universo da cultura, o centro está em toda a parte".

Inclusive dentro de um taxi. 

Abaixo o link com as informações completas sobre a campanha de 100 anos da Saraiva:

domingo, 6 de julho de 2014

Etnografia


Dentre as técnicas atualmente disponíveis nas Pesquisas Qualitativas, a Etnografia emerge, sem dúvida, como a mais sofisticada do cardápio. A sua origem é na Antropologia e os seus primeiros estudos se resumiam à análises comportamentais de grupos mais exóticos do que a média, como tribos indígenas, etnias africanas, grupos ciganos ou habitantes de uma ilha distante. Não tardou, porém, para que ela fosse percebida também como uma importante aliada nos estudos de extratos sociais mais próximos aos abordados pelo marketing tradicional. 

Em linhas gerais, o seu grande objetivo é, por meio da perícia na observação, buscar detalhes que revelem o comportamento dos clientes e consumidores em seu habitat natural. A técnica é, normalmente (e recomendável, mas não obrigatória), exercida por um antropólogo. O processo é extremamente refinado e pode transitar em várias vertentes como, por exemplo, olhares atentos nas dificuldades, atitudes, linguagem verbal e corporal, e até no tom de voz do público-alvo. Além disso, no meio de diversas possibilidades de categorizações e, dependendo do produto ou serviço, a análise pode ser baseada até nos 5 sentidos do corpo humano.

A grande vantagem deste instrumento de pesquisa de mercado é a possibilidade de penetrar no mundo social e cultural das pessoas, sem grandes amarras científicas ou acadêmicas verificadas em outras ferramentas de pesquisa e inteligência de mercado. Apenas o prazer pela busca da inspiração em si. E que leva, frequentemente, à inovação (seja de pequeno ou grande porte) e, salvo grandes tropeços, à tão desejada lealdade à marca. 

Embora a Observação Participante seja sempre uma boa opção, o melhor mesmo, neste caso, é o caminho mais difícil, ou seja, manter o anonimato nas observações, respeitando-se, claro, as questões éticas pertinentes. Assim, ganhamos ainda mais em espontaneidade, a grande figura carimbada e perseguida pelos profissionais da pesquisa de marketing. E o caminho mais difícil não pára por aí: os estudos etnográficos costumam levar mais tempo de serem realizados do que um questionário tradicional de pesquisa quantitativa, focus group ou entrevista em profundidade. E, por motivos já explicados, a internet deve ser evitada porque a amplitude de potenciais análises se reduz bastante.

Ainda sobre o tempo de realização de uma pesquisa etnográfica, o honesto mesmo é afirmar que não há um prazo específico para a sua conclusão. Os primeiros bons insights costumam demorar, em média, pra lá de três ou quatro semanas. Isso, veja bem, na média. Pode ser menos ou muito mais do que isso. A paciência e uma certa imprevisibilidade são inerentes à Etnografia. Mas os resultados podem compensar muito. O fato é que, em última instância, quanto mais ouvir, ver, perceber e/ou conversar com o "povo" - trabalhando, inclusive, a co-criação - maiores são as chances de captar algo realmente relevante e que irá contribuir para o reposicionamento de uma marca ou para a construção de um produto ou serviço de sucesso no futuro.

Ao citar "Os idiotas da objetividade" ou "Os números dizem pouco", Nelson Rodrigues atirava num alvo e, sem saber, acertava em muitos outros. É injusto insinuar a aplicação dessas frases do saudoso jornalista brasileiro às pesquisas quantitativas, até porque elas podem complementar ou servir de ponto de partida para as pesquisas qualitativas. Além disso, os números fornecem a temperatura do fenômeno, um bem muito valioso. Não são, assim, excludentes, mas conversam entre si. Porém, é irresistível associá-las à essência da Etnografia ao ir muito além das aparências.

Portanto, da próxima vez que você for tomar uma cerveja no pub mais próximo, cuidado: você pode estar sendo observado por algum antropólogo do outro lado do balcão. Mas, por ora, com a palavra Anne Kirah, antropóloga-chefe da Microsoft, uma incansável caçadora de inspirações numa toada mais simples e óbvia do que muitos ditos entendidos de gabinete gostariam, puramente convivendo com as pessoas.   



terça-feira, 1 de julho de 2014

Kia

E voltando à Copa: senão me engano, o estádio é uma alusão ao Wembley, em Londres. Se for, nenhum problema também (não vai mudar a taxa do dólar), mas poderiam ter feito com o Maracanã. No mais, excelente! Visualizações? Quase 17 milhões...


P&G

E saiu hoje no site do Mundo do Marketing matéria sobre a retirada do termo "Marketing" do organograma da P&G. Agora é a palavra "Marca" que vai substituir a anterior, criando cargos como Diretoria de Marca e Diretoria Associada de Marcas, e coordenando todas as estratégias e ações de Branding e Marketing da empresa. E este, portanto, tornando-se finalmente (e oficialmente) um processo que auxilia na construção da marca, que virou nomenclatura de cargo. A iniciativa faz parte de um grande esforço de redesenho funcional em âmbito mundial da companhia norte-americana. Agora, o produto, mais do que nunca, é somente uma peça na engrenagem, tendo que se entender com diversas outras variáveis na equação para a construção de marcas de sucesso. Também serviu de reforço para a tese/tendência apresentada no mais recente artigo publicado no blog, intitulado "Gerente de Quê? (27 de junho)". Não é exatamente uma surpresa a Procter ter tomado esse tipo de atitude - ela é considerada pioneira em diversos conceitos de Branding e Marketing no mercado de bens de consumo - o que espanta é o ter feito tão tardiamente.