Dúvida cruel: melhor investir em uma "publicidade-tradicional-enlatada-fria-e-chata-de-30-segundos-na-TV-ou-no-rádio-ou-em-qualquer-outra-mídia-falando-dos-atributos-técnicos-da-última-geração-de-chips-da-Intel" ou em uma boa história (estão chamando por aí de storytelling ...) contada no tempo suficiente para dar sentido à significados e propósitos da marca, emergir opiniões, marcar posições, expor crenças, engajar e fazer as pessoas sentirem algo e refletirem sobre? A resposta já está na formulação da dúvida, claro. Sem contar que aqueles bravos heroicos que, eventualmente, sobreviverem a mais de 15 segundos de um massacre "a-lá-bula-de remédio", provavelmente não lembrariam nem dos atributos técnicos nem da marca. Cruel mesmo.
Este vídeo (de tempo suficiente) da Intel - e batizado de "Future Vision" - especula sobre como seria em um futuro próximo (bem próximo, aliás) a nossa interação com a evolução, cada vez mais rápida e disruptiva, da computação móvel. Mas o ponto aqui não é discutir estas tecnologias em si. A questão é o banho estratégico do dito storytelling sobre a combalida publicidade tradicional, no que se refere à capacidade de gerar atenção e sensibilidade nas pessoas. A publicidade tradicional definha a passos largos por diversas razões, dentre elas a sua chatice inerente (salvo raríssimas exceções), mais informações e opções de mídia disponíveis (facilitando a fuga), e ao fato de que o mundo (e nós) estamos mais complexos e exigentes. Hoje em dia é difícil nos pegar.
Por outro lado, o storytelling bem-feito costuma ser menos custoso, mais intimista e emotivo. Também gera mais "buzz" e, portanto, mais mídia espontânea. Transita bem nas redes sociais e marca referências. Tende a provocar grandes discussões e interações entre as pessoas. E o melhor: a marca "patrocinadora" não é a estrela, é a coadjuvante. Vem só de carona, mas é muito mais bem-vinda e reverenciada do que as marcas dos comerciais chatos lá de cima. E por quê? Porque não nos tratam como uns completos idiotas. Simplesmente, está cada vez menos tolerante digerirmos adaptações toscas e piegas de musiquinhas de axé ou de pagode (fosse qualquer o gênero) para vender remédios para dor de cabeça (fosse qualquer a categoria).
E a Intel, com os seus chips sem-graça, no meio de um emaranhado de engrenagens sem-graça, mas dentro de gadgets normalmente atraentes, mais uma vez dá uma aula para aqueles que acham que boa comunicação só é possível mesmo para margarinas (urgh!?!), cervejas ou carros. A sacada é que ela não ataca os chips (nem os seus sonolentos aspectos técnicos), mas o universo de benefícios, facilidades, prazeres e conforto que os seus produtos (sem-graça) contribuem no dia-a-dia de pessoas normais, com histórias normais e antenadas com o seu tempo. Intel Inside!!! Anyway, um programa de marketing que se preze não pode prescindir de uma ferramenta como o storytelling em seu arsenal. O branding da marca agradece.