Interessante levantamento do Conecta (uma plataforma do Ibope) com um lampejo sobre o engajamento social das marcas e a publicidade on-line. Mesmo considerando o nítido viés da amostragem (somente internautas e, aparentemente, todos moradores da cidade de SP) e um eventual cuidado menos apurado em relação às estratificações demográficas (e perfis) necessárias para que reflita adequadamente o pensamento da sociedade como um todo, o fato é que, no mínimo, o estudo nos sinaliza e reforça fenômenos já não tão surpreendentes para estudiosos e profissionais de marketing. Só por isso, é valida a sua utilidade, aprofundamento e reflexão. Vejamos os dois principais pontos:
1 - 62% adotariam marcas que proporcionarem melhorias na cidade. Não chega a ser uma surpresa. Na verdade, é só mais um indício que mostra uma clara tendência de mercado e que fortalece o post anterior sobre sustentabilidade neste blog. Falta apenas larga parte dos empresários e dos altos executivos acordarem (com disposição) para o tema. Ora, está virando uma questão de preferência dos consumidores. Sustentabilidade e os seus tentáculos, portanto, são pilares importantes para a sobrevivência - de uma forma saudável - da marca no business. Quer apelo maior? Parece-me que em alguns países da Europa e nos Estados Unidos este movimento já está em passos mais adiantados. Também não é surpresa.
2 - 66% abominam publicidades intrusas em conteúdos na web. Este ponto merece mais linhas e uma análise de amplitude maior. Isso é um sofrimento vivido não só pelos internautas. É um sofrimento quase que geral. Chegamos a um estágio em que, notadamente no Brasil, simplesmente não suportamos mais tanta publicidade previsível, auto-elogiosa, barulhenta, inautêntica, intrometida e inútil (tem outros adjetivos, certamente, mas ficarei por aqui.). Em todas as mídias. Somos bombardeados por todos os lados, os produtos estão ficando cada vez mais iguais e as marcas querem ganhar a argumentação e a preferência na base do grito, do tipo "estou aqui sempre e sou o melhor". Os seres humanos, como espécie animal, tem os limites para absorver tanta algazarra. Pronto, falei!
Quando você está navegando na internet e aparece uma publicidade que interfere no que você está lendo, o que você sente?
Fonte: Conecta
Estratégias desse tipo tem lá os seus benefícios, claro, dentre eles o de nos enfiar goela abaixo o nome de marcas por meio de anúncios, slogans e jingles pra lá de pavorosos e ultra-repetitivos. Em muitos casos, a ruindade é proposital mesmo. O efeito chiclet acaba grudado em nossa mente e...como é difícil tirar. É o tal do brand recall tirado a "fórceps"! Mas isso está longe de ser uma comunicação nobre, positiva, elegante, associativa, estratégica e delimitadora de territórios. É uma apelação que enche cada vez mais o nosso saco de paciência (que já é bem pequeno) e, dependendo do estágio, o efeito pode ser, inclusive, contrário ao pretendido originariamente.
Mas nem tudo está perdido. Fora a ousadia, entendo que a publicidade - em especial a brasileira - precise passar por uma revolução no seu conceito. Devemos lançar mão de ferramentas mais sofisticadas, longe do "lugar-comum" e do comodismo. Instrumentos como a criatividade mais aguçada, a rotatividade constante das mensagens, o storytelling, o marketing de guerrilha, o desenvolvimento de apps com bom apelo comunitário, o merchandising inserido naturalmente no conteúdo apoiado, as ativações inteligentes de patrocínios, as campanhas interligadas com o marketing de experiência, o conjunto de naming (nome, logotipo, slogan e símbolo) surpreendente, o co-branding (ações temporárias envolvendo duas ou mais marcas com o mesmo público-alvo), os eventos de relacionamento construídos com base no perfil e na linguagem do cliente/consumidor em que a marca apareça de "carona" e não como a estrela principal, as ações de responsabilidade social e ambiental que gerem boas notas nas mídias via assessoria de imprensa e/ou, simplesmente, concentrar a maior parte dos esforços no oferecimento de produtos incríveis, embalagens funcionais e elegantes, serviços acima da média (inclui o pós-vendas) ou experiências marcantes de compras na quais, de resto, pode deixar que o povão faz a publicidade boca-a-boca. Por sinal, esta é a melhor de todas, sem dúvidas.
No mais, esse pequeno manifesto pede que as marcas sejam apenas mais autênticas, discretas e menos intrometidas em suas publicidades. Não é, de forma alguma, o anseio pelo fim da publicidade em si (até porque seria contra-produtivo para as marcas e para a própria população), mas o seu uso mais otimizado, personalizado, inteligente e de bom-gosto, considerando a avalanche de dados, sons, imagens e marcas às quais somos submetidos diariamente e as incontáveis opções de mídias disponíveis. Assim, o recado é: por favor, usem os mecanismos mais apropriados de comunicação para passarem as mensagens de suas marcas sem serem chatos e/ou inconvenientes.
Até porque temos alguns aparelhozinhos milagrosos para contra-atacar publicidades pentelhas. Quando o apresentador de uma TV, por exemplo, anuncia que o programa volta já-já (e que lá vem o mais do mesmo), acionamos um pequeno dispositivo chamado "controle-remoto" no qual, de repente, em questão de milésimos de segundos, já estamos consumindo outro CONTEÚDO, enquanto determinado sabão-em-pó fala - pela milionésima vez - sobre os seus atributos maravilhosos para chegar na brancura que a mamãe tanto quer. Isso sem contar a mesma musiquinha, a mesma piadinha, a mesma historinha, as mesmas conclusões, o mesmo cenário, a mesma praça, etc. urgh$#*%, que vem à tiracolo. Bom, se ainda tivermos a fim do CONTEÚDO do programa anterior, esperamos mais uns dois ou três minutinhos até essa enxurrada de marcas falar muito bem de si mesmas e voltamos para o CONTEÚDO original. Isso quando resolvemos desligar mentalmente da TV e pensar/fazer qualquer outra coisa, incluindo dar uma fuçada nas redes sociais do celular para passar o mesmo tempo do blá-blá-blá publicitário. São ossos do ofício, meus caros.
Anyway, enfim, abaixo o link com a notícia no site do Ibope: