sábado, 8 de agosto de 2015

Latam


Em processos de fusões entre empresas, é natural que as marcas envolvidas queiram, de alguma maneira, preservar traços de seus elementos públicos de identificação. Seja no nome, no logo, nas cores ou nos símbolos das marcas, para citar os principais.

Assim, era previsível a iniciativa de criação de um novo nome a partir da fusão entre as companhias aéreas LAN (chilena) e TAM, à despeito de toda a carga de referências e associações que ambas as marcas construíram por décadas. Não é uma decisão fácil, tampouco livre de altos riscos e custos.

Ainda que as empresas tivessem tido o cuidado de abordar clientes e funcionários no processo de escolha do nome, a escolhida Latam esbarrou um pouco no genérico e até na chacota. Nas redes sociais, alguns engraçadinhos de plantão fizeram um trocadilho com "Latão". Por outro lado, o termo é simples, fácil de assimilar, descomplicado de lembrar, suscita uma abrangência mais cosmopolita e apresenta uma boa sonoridade. Agradar à todos é realmente difícil, mas saldo é positivo.

O fato é, no entanto, que toda nova marca requer volumes consideráveis de tempo e dinheiro, e de estratégias inteligentes e bem coordenadas. Serão aproximadamente três anos de adaptação,  mais de US$ 40 milhões e uma infinidade de ações de comunicação para emplacar o novo batismo. Em tempos de mídias extremamente pulverizadas e instantâneas, este processo de reconhecimento, lembrança e interpretações desejadas pode ser bastante encurtado, sem dúvidas, mas o inverso também é verdadeiro: estamos todos com as mentes congestionadas de dados, informações e ofertas. Nunca é tranquilo arrumar um cantinho na consciência das pessoas para embutir uma nova marca...

Embora ainda não se tenha revelado o conjunto da nova identidade visual, é certo que, no quesito cores, a Latam terá predominância no azul e no vermelho, tonalidades prevalentes em suas logomarcas originais. Nenhuma novidade, portanto. Ponto de preocupação fica para a impressão de que esta fusão talvez ainda não tenha sido suficientemente comunicada aos clientes e ao público em geral, tornando-se mais um foco de apreensão para uma eventual confusão de entendimento entre as pessoas.

No mais e, em linhas gerais, embora a estratégia de fusão possa trazer consigo inegáveis vantagens competitivas - tais como otimização de recursos, ganhos de mercado e compartilhamento de expertise - sacrificar marcas já bem estabelecidas é sempre um risco relevante de ser mal recebido pela comunidade e de ser bem aproveitado pelos concorrentes, por meio de oportunos programas de marketing. Todavia, diante do cenário e do imenso prazer na criação de uma marca, vale à pena a travessia. O tempo dirá.